Qualidade do sono em tempos de pandemia

Você sabia que estresse, ansiedade e preocupação são estados emocionais diretamente relacionados à qualidade do nosso sono? Por isso, é comum apresentarmos dificuldade para adormecer ou, até mesmo, perdermos o sono quando estamos passando por uma situação desafiadora em nossas vidas.

 

E foi exatamente este cenário que surgiu junto com a pandemia de Covid-19. As inúmeras dúvidas em torno desse momento tão novo e incerto - qual seria seu tempo de duração, se conseguiríamos a cura ou vacinas eficazes, como ficariam nosso trabalho e filhos - geraram uma insegurança muito grande para toda a sociedade. A falta de respostas para estas perguntas acabou refletindo na qualidade do sono de muitas pessoas, aumentando, assim, as queixas de distúrbios de sono desde a chegada do novo coronavírus.

 

Além de todo o cenário de incertezas, o medo de contrair uma doença tão nova e desconhecida também contribuiu para o aumento das queixas de bruxismo, pesadelos e insônia. De acordo com o Journal of Clinical Sleep Medicine (JCSM), um ano após o início da pandemia, o índice de problemas de sono na população em geral foi de 32,3%, sendo que nos pacientes com Covid-19 essa taxa saltou para 74,8%. Hoje, um terço da população sofre de insônia, ante 15% de insones antes da pandemia.

 

Mudanças no estilo de vida ocasionadas pela chegada da Covid-19 também colaboraram para os impactos no sono. O home office, por exemplo, fez com que algumas pessoas trabalhassem mais horas do que o necessário, aumentando, assim, suas jornadas para além do horário comercial. Além disso, o isolamento social contribuiu para o sedentarismo, uso excessivo de eletrônicos e má higiene do sono – com a falta de regularidade para dormir e acordar – e menor exposição ao sol. Tais mudanças favoreceram o aumento do estresse, irritabilidade, ansiedade, depressão e insônia na população.

 

O sono dos brasileiros e a pandemia

Segundo a pesquisa “O sono da população brasileira durante a pandemia”, realizada pela Associação Brasileira do Sono (ABS), houve diminuição na duração do sono dos brasileiros, de 7,12 horas diárias antes de 2020 para 6,23 horas a partir do início da pandemia. Já a dificuldade para adormecer ou continuar dormindo saltou de 27,6% para 58,9%. Enquanto a insatisfação quanto à duração e qualidade do sono passou de 44,5% para 72,7%. Entre as principais queixas dos brasileiros estão despertar durante a noite ou mais cedo do que o necessário, dificuldade para iniciar e manter o sono, pesadelos, cansaço e sonolência ao longo do dia.

 

As mais vulneráveis

As mulheres sempre foram mais suscetíveis à insônia do que os homens, mas, a pandemia de Covid-19 fez com que elas fossem ainda mais impactadas com os distúrbios de sono, como dificuldade para adormecer e despertares durante a noite. Isso porque a mudança na rotina diária intensificou a tripla jornada feminina, uma vez que, elas precisaram conciliar os serviços domésticos e os cuidados com os filhos com as atividades profissionais e compromissos financeiros. Além desta sobrecarga causada pelo acúmulo de funções com o isolamento social, algumas mães precisaram renunciar seu lado profissional por não contarem com ajuda com a rotina de casa e dos filhos.

 

Covid longa e insônia

Um estudo desenvolvido pela Fiocruz Minas avaliou os efeitos da Covid-19 ao longo do tempo e constatou que metade das pessoas diagnosticadas com a doença podem apresentar sequelas por mais de um ano, conhecida como síndrome da Covid longa. Entre as principais queixas destes pacientes estão a fadiga, tosse persistente, dificuldade para respirar, perda do olfato ou paladar e dor de cabeça frequente.  Além destes sintomas, transtornos como insônia, ansiedade e tontura também chamaram a atenção dos pesquisadores.

 

Sono e imunidade

Vale ressaltar que o sono possui um papel fundamental para a nossa imunidade. Quando dormimos, nossa energia e processos metabólicos são redirecionados para algumas funções de nosso organismo como o metabolismo do sistema imunológico. Ou seja, uma boa noite de sono contribui para a produção de nossas células de defesa, aumentando, assim, nossa imunidade. Quem dorme bem, também apresenta uma melhor resposta vacinal e tem maior resistência a doenças. Por isso, um sono de boa qualidade e na quantidade suficiente é essencial para nossa integridade física e mental.  

 

Referências: 1. Sono – UMA PUBLICAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO SONO – Edição 25 / 2. Cartilha Semana do Sono 2022  - Último acesso 04/07/2022  / 3. Pesquisa da Fiocruz avalia síndrome da Covid longa – FIOCRUZ -  Último acesso 04/07/2022  / 4. O Sono da população brasileira durante a pandemia – Associação Brasileira do Sono (ABS) / 5.  Moreno CRC, Conway SG, Assis M, Genta PR, Pachito DV, Tavares A Jr, Sguillar DA, Moreira G, Drager LF, Bacelar A. COVID-19 pandemic is associated with increased sleep disturbances and mental health symptoms but not help-seeking: a cross-sectional nation-wide study. Sleep Sci. 2022 Jan-Mar;15(1):1-7.


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